A VOZ FEMININA ANCESTRAL: O ROMPIMENTO DO MEMORICÍDIO EM CACHORRO VELHO, DE TERESA CÁRDENAS

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.18817/rlj.v9i1.4106

Resumen

A ecritora cubana Teresa Cárdenas, laureada com o prestigiado Prêmio Casa de las Américas, convida-nos, em Cachorro Velho (2010), a uma imersão visceral na história e na memória da escravidão em Cuba, revelando as profundas cicatrizes deixadas por esse evento traumático. Tais cicatrizes, herdadas do colonialismo, são reconhecidas como crimes (BÁEZ, 2010): genocídio, etnocídio e memoricídio. A autora ficcionaliza a partir da memória coletiva e de seus ancestrais escravizados, transformando a escrita em um ato de resistência contra o esquecimento e a negação, além de promover a reparação e a preservação da memória do povo negro nas Américas. A ficcionalização do testemunho, nesse contexto, não desvia da verdade histórica, mas amplia as vozes silenciadas, dando-lhes ressonância e construindo um contradiscurso que desafia as narrativas dominantes. As personagens femininas Beira e Aroni desempenham um papel essencial nessa reconstituição/reconstrução, oferecendo múltiplas perspectivas sobre a condição feminina no contexto da escravidão. Seus papéis extrapolam as representações estereotipadas, revelando uma complexidade que se manifesta em suas vozes, resistências e, sobretudo, na preservação da memória ancestral. Através delas, a autora propõe a reflexão sobre a importância da oralidade e da tradição na construção da identidade e na luta contra o esquecimento. A literatura, portanto, funciona como uma ferramenta poderosa na luta contra o racismo e na construção de uma sociedade que, ao lembrar o passado, evita a sua repetição. Este trabalho discute a obra a partir das teorias de Figueiredo (2010 e 2011), Duarte (2022), Evaristo (2015), Gagnebin (2012) e Pizarro (2009).

Biografía del autor/a

Valéria Sales Menezes, UFGD

Doutoranda em Letras - na área de Literatura e Práticas Culturais pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Também Mestra pelo mesmo Programa e Instituição (Bolsista CNPQ/CAPES/2017 a 2019), onde analisou a representação metonímica da descolonização haitiana no romance "A ilha sob o mar" (2011), da chilena Isabel Allende. Graduou-se em Letras - Habilitação Português/Espanhol pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (2016). Lecionou no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID/2014 a 2016). Atuou como professora contratada pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (2021-2022), onde ministrou aulas nos cursos de Pedagogia e Administração (UU Maracaju) e Letras - Habilitação Português/Espanhol (UU Dourados). Ainda, atua na Rede Estadual de Educação de Mato Grosso do Sul desde 2021, lecionando a disciplina de Língua Espanhola e outras; atuou, na mesma rede, como Professora Coordenadora de Práticas Inovadoras (PCPI) (2022-2024). Hoje é Professora Coordenadora de Área de Linguagens e suas Tecnologias na EE Ramona da Silva Pedroso. É bolsista CAPES (Doutorado) e FUNDECT-MS (supervisão - PICTEC IV).

Paulo Bungart Neto, UFGD

Paulo Bungart Neto possui Graduação em Letras (Bacharelado - Português) pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP, 1996), Mestrado em Letras (Teoria Literária e Literatura Comparada) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, campus de Assis (UNESP, 2002), Doutorado em Letras (Literatura Comparada) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS, 2007), e Pós-Doutorado em Estudos Literários (com ênfase nas memórias da literatura brasileira contemporânea) pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG, 2013-2014). É Professor Titular de Literatura Comparada e Crítica Cultural da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), atuando na Graduação do curso de Letras da instituição e no Programa de Pós-Graduação em Letras (Mestrado e Doutorado), como professor permanente, na área de Literatura e Práticas Culturais. É membro do Grupo de Trabalho (GT) de Literatura Comparada da Associação Nacional de Pós-Graduação em Letras e Lingúística (ANPOLL). De setembro de 2020 a agosto de 2021 fez Estágio Pós-Doutoral (Visiting Research Fellowship) na University College London (UCL), com projeto relacionado às memórias dos escritores brasileiros exilados em Londres no início da década de 1970. Entre setembro de 2021 e agosto de 2022, atuou como Honorary Research Fellowship, na UCL. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Teoria Literária, Crítica Literária e Literatura Comparada, atuando principalmente nos seguintes temas: teoria e crítica literária, Literatura Comparada, memorialística modernista e contemporânea brasileira, literatura brasileira contemporânea, autoficção brasileira, obras sobre a ditadura militar no Brasil e na América Latina, obras de: Augusto Meyer, Machado de Assis e Marcel Proust.

Publicado

2025-07-31

Cómo citar

SALES MENEZES, Valéria; BUNGART NETO, Paulo. A VOZ FEMININA ANCESTRAL: O ROMPIMENTO DO MEMORICÍDIO EM CACHORRO VELHO, DE TERESA CÁRDENAS. REVISTA DE LETRAS - JUÇARA, [S. l.], v. 9, n. 1, p. 49–60, 2025. DOI: 10.18817/rlj.v9i1.4106. Disponível em: https://www.ppg.revistas.uema.br/index.php/jucara/article/view/4106. Acesso em: 5 dic. 2025.