Adoecimento e superação: imbricamento de espaços e tempos na vida de professores que manifestam sentir-se sob a pressão do cotidiano

Resumen

Este texto corresponde a uma busca de compreensão sobre as narrativas que manifestam o sentimento de professoras de geografia em escolas públicas, o sentimento de trabalharem e viverem sob uma pressão ao mesmo tempo constante e difusa. As professoras passaram o período pandêmico com as escolas dentro de suas casas, invadindo-lhes o cotidiano familiar, no entanto, o que expressaram é também referente ao cotidiano anterior. A busca compreensiva vincula-se ao método de pesquisa (auto)biográfica. As palavras dadas, que ligam tempos e espaços na ação de narrar, manifestam a autoformação dessas professoras, que pensaram sobre si e sobre os colegas e alunos num período de reinvenção forçada, causadora de adoecimento. O texto procura expressar um exercício compreensivo de sentimentos e vivências de profissionais que tiveram suas vidas alteradas, passando por sofrimentos e construindo superação. No ano de 2020 foram realizadas escutas de forma on-line. A compreensão das narrativas conectou-se aos conceitos de consciência de si e movimento continuamente reconstrutivo da identidade docente, com fundamentos epistemológicos em Abrahão, Josso, Marinas, Ricoeur e outros aportes. A escrita buscou registrar e compreender significados do que foi narrado por profissionais que manifestam o sentimento de não escuta de suas experiências pelo contexto social, ansiando por oportunidades para tecerem reflexivamente suas vivências e as partilharem. Ouvimos tempos e espaços imbricados num súbito novo cotidiano, que representou ao mesmo tempo ruptura e reconhecimento de que muito da angústia vivida já se fazia presente anteriormente, apenas que de modo menos exacerbado, o que fomentou a projeção de temores quanto ao próximo cotidiano, pós-pandêmico. Ouvimos também sentimentos que manifestam resistência e desejo de superação individual e coletiva.